
Naquela tarde Julia vinha da escola mais pensa do que nunca, trazia consigo mais livros do que normalmente, fazendo-a andar devagar, se cansando e suando mais ao sol do meio-dia. Mas isso não abatia seu sorriso e nem a desanimava, pois sabia que teria a recompensa quando chegasse em casa. Era uma menina diferente dos outros moradores da cidade, pois lia só o primeiro parágrafo de cada livro, ou a primeira página caso o primeiro parágrafo fosse curto. Depois ficava pensando, imaginando e desenhando a continuação e como terminavam as histórias. Era esse a sua diversão e passatempo favoritos.
Um dia chegou na escola e viu um cena diferente, a biblioteca de sua escola havia sido destruída por um incêndio criminoso. Correu para sua casa, subiu as escadas e se trancou em seu quarto. Chorou como nunca tinha chorado, o dia inteiro, adormeceu soluçando. Pela manhã, levada pela fome e sede, desceu as escadas com os olhos inchados e ainda marejados e o rosto vermelho. Sua mãe a abraçou dizendo que tudo ficaria bem, mas ela só pensava na tristeza, na perda, no tédio.
Ao ouvir isso, apesar da tristeza, se animou um pouco e pensou nos livros, na quantidade deles, nas histórias deles e na caminhada pensa que teria que fazer, agora com uma distância três vezes maior. Sorriu.