segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Traça de biblioteca


Morava numa cidade chamada Patativa de Assaré, de pouco mais de 50 mil habitantes que gostavam da natureza, de pássaros e eram leitores assíduos. Não gostava de bonecas ou lacinhos, fitas ou presilhas, gostava de lápis de cor, papel e de imaginar. Estudava em uma escola de ensino fundamental, estava na 6ª série, e seu local predileto na escola era a biblioteca, passava qualquer tempo vago entre uma aula e outra lá, e só não fazia suas refeições ali porque era proibido. Tinha amigos na escola, mas eram poucos os momentos em que se divertiam fora dela.

Naquela tarde Julia vinha da escola mais pensa do que nunca, trazia consigo mais livros do que normalmente, fazendo-a andar devagar, se cansando e suando mais ao sol do meio-dia. Mas isso não abatia seu sorriso e nem a desanimava, pois sabia que teria a recompensa quando chegasse em casa. Era uma menina diferente dos outros moradores da cidade, pois lia só o primeiro parágrafo de cada livro, ou a primeira página caso o primeiro parágrafo fosse curto. Depois ficava pensando, imaginando e desenhando a continuação e como terminavam as histórias. Era esse a sua diversão e passatempo favoritos.


Um dia chegou na escola e viu um cena diferente, a biblioteca de sua escola havia sido destruída por um incêndio criminoso. Correu para sua casa, subiu as escadas e se trancou em seu quarto. Chorou como nunca tinha chorado, o dia inteiro, adormeceu soluçando. Pela manhã, levada pela fome e sede, desceu as escadas com os olhos inchados e ainda marejados e o rosto vermelho. Sua mãe a abraçou dizendo que tudo ficaria bem, mas ela só pensava na tristeza, na perda, no tédio.

- Você ainda tem a biblioteca municipal.

Ao ouvir isso, apesar da tristeza, se animou um pouco e pensou nos livros, na quantidade deles, nas histórias deles e na caminhada pensa que teria que fazer, agora com uma distância três vezes maior. Sorriu.