terça-feira, 30 de setembro de 2008

Faces do Amor


Canto I - Rejeição

A vida falante,
as vezes errante,
tão perto e distante,
de quem quero estar.
Me lembro do rosto,
do jeito, do gosto,
também do desgosto,
por ela amar.

Por causa do não,
quebrou coração,
acenou com a mão,
para eu me afastar.
Dura realidade,
chorar de saudade,
já nessa idade,
por ela amar.

Para que eu esqueça,
dantes que padeça,
pela menina Vanessa,
que tanto amei.
Segui meu caminho,
triste e sozinho,
sem alguém, sem carinho,
na vida vaguei.

Canto II - Encontro

Mas em um qualquer dia,
de imensa alegria,
encontrei companhia,
de que precisava.
A figura perfeita,
que não se rejeita,
e sempre me aceita,
porque já me amava.

Tão doce menina,
feliz, pequenina,
era a tal Carolina,
que meu amor conquistou.
Seu verde-olho profundo,
que atravessa o mundo,
e bem lá no fundo,
do coração me chegou.

Felicidade intensa,
sem julgo e sentença,
a maior que se pensa,
com ela vivi.
Ótimos momentos,
livre de tormentos,
que por muito dos tempos,
com ela sorri.

Canto III - Fim

Mas a vida cruel,
destilando seu fel,
cobriu com um véu,
tirando-a de mim.
Brincadeira banal,
mas pra ela fatal,
e o amor real,
então teve fim.

Estirado no porto,
chorei junto ao corpo,
inerte e morto,
molhado de água com sal.
Meu peito inteiro,
sentiu desespero,
na hora do enterro,
do adeus final.

O sonho acabado,
meu corpo sujo e cansado,
e a esse destino fadado,
novamente vaguei.
Mas encontrei solução,
com uma arma na mão,
e um tiro no coração,
me suicidei.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Traça de biblioteca


Morava numa cidade chamada Patativa de Assaré, de pouco mais de 50 mil habitantes que gostavam da natureza, de pássaros e eram leitores assíduos. Não gostava de bonecas ou lacinhos, fitas ou presilhas, gostava de lápis de cor, papel e de imaginar. Estudava em uma escola de ensino fundamental, estava na 6ª série, e seu local predileto na escola era a biblioteca, passava qualquer tempo vago entre uma aula e outra lá, e só não fazia suas refeições ali porque era proibido. Tinha amigos na escola, mas eram poucos os momentos em que se divertiam fora dela.

Naquela tarde Julia vinha da escola mais pensa do que nunca, trazia consigo mais livros do que normalmente, fazendo-a andar devagar, se cansando e suando mais ao sol do meio-dia. Mas isso não abatia seu sorriso e nem a desanimava, pois sabia que teria a recompensa quando chegasse em casa. Era uma menina diferente dos outros moradores da cidade, pois lia só o primeiro parágrafo de cada livro, ou a primeira página caso o primeiro parágrafo fosse curto. Depois ficava pensando, imaginando e desenhando a continuação e como terminavam as histórias. Era esse a sua diversão e passatempo favoritos.


Um dia chegou na escola e viu um cena diferente, a biblioteca de sua escola havia sido destruída por um incêndio criminoso. Correu para sua casa, subiu as escadas e se trancou em seu quarto. Chorou como nunca tinha chorado, o dia inteiro, adormeceu soluçando. Pela manhã, levada pela fome e sede, desceu as escadas com os olhos inchados e ainda marejados e o rosto vermelho. Sua mãe a abraçou dizendo que tudo ficaria bem, mas ela só pensava na tristeza, na perda, no tédio.

- Você ainda tem a biblioteca municipal.

Ao ouvir isso, apesar da tristeza, se animou um pouco e pensou nos livros, na quantidade deles, nas histórias deles e na caminhada pensa que teria que fazer, agora com uma distância três vezes maior. Sorriu.